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O Mercado das Coisas Furtadas

Bruno Muniz

Sou apenas um homem que diz com as mãos, um poeta. Conto a luz que vi olhando a rua - mais precisamente o Mercado das Coisas Furtadas -, e, por conta disso, posso ser sempre o mesmo e diferente: é sempre o chão de alguém que tomo nota no poema; penso ser eu vagamente interessante aos outros. Invento arredores onde eu não esteja e se se arriscam num salto encontrar-me invento logo um girassol vermelho - a natureza não nos dá o invento, mas a razão de inventá-lo. 

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Penso criar heterônimos, num repente de um salto arrancar a alma e dá-la ao primeiro de mim que me aparecer, mas acho muito difícil inventar nomes, queria ser eu mesmo um heterônimo: Bruno Caeiro Reis de campos. Quem dera a natureza fosse a razão por que

escrevo; um besouro azul é mais que todas as almas, mas se invento a borboleta ela está aos encontrões com o vento e se penso a chuva ela logo descobre os telhados. Como é difícil a vida de um poeta! Não se mexe na luz que não existe ainda! já dizia o... Bem que alguém podia mesmo ter dito isso e me alertado e alertado todos os poetas e todos os poetas alertariam todos os poetas que iriam nascer que em socorro alertariam as flores para que não nascessem e os olhos verdes para não existirem.

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