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Vida crônica

Texto e ilustração, Manoel Duvale

Segue a vida sem receita, essa vida crônica, sem remédio. De súbito a alma vazia encontra seu bocado num epitáfio: Aqui jaz um sujeito que gostava de jazz.
 

Vida lacônica que mal cabe numa crônica.

 

De repente lá se vai quem só conseguia dormir de conchinha ir dormir – coberto de terra e calçando meias, na terra dos pés juntos.

 

Café, pão com ovo pra animar o velório do presunto. Segue a vida devagar nas vagas do tempo. Deitado no chão é que se tem a melhor visão do firmamento.

Firmado está, a vida é um instante de tempo bom... ou temporal... 

Segue a vida depois da morte, fica o sapato vazio com seu par sem meias.

 

Por isso, não deixe meias palavras por aqui. Faça tudo que te faça eterno. A vida é crônica, não tem cura e nos consome dia a dia até sobrar só o osso.


Viva seu ócio produtivo, seu amor sem fins de reprodução. Viva com calma, com sofreguidão. A vida é crônica, não tem remédio que cure essa vontade de ser metade de outro, juntos para sempre pra além da foto amarelada pendurada na parede.

 

Um dia me perguntaram se eu tinha medo da morte. Lembrei na hora da piada que diz que a morte é boa, se não as caveiras não sorririam.

 

- Nascer e morrer são parte da mesma viagem.

 

Eu tenho medo é dos buracos negros, porque eles sim, têm o poder de devorar poetas. Respondi, lembrando do esqueleto da osguita que eu e meu pai encontramos numa manhã de faxina atrás do armário da cozinha.

 

Esse foi o meu momento de caos. A certeza de que existe um fim depois do começo. Até mesmo a morte quer passar longe dos buracos negros.

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