Curiosidades de um leitor
Um leitor sempre terá o desejo de saber se aquilo que um autor escreve é autobiográfico quando o livro não é declaradamente autobiográfico. Impossível saber o que é e o que não é. Está tudo tão misturado na receita de um romance ou conto, que às vezes nem o próprio escritor se lembra se viveu aquilo e emprestou a memória para a ficção ou se não viveu e pensa ter vivido porque a ficção é muita persuasiva.
Todo autor empresta suas memórias para a criação de suas narrativas. Empresta partes de si para a criação de personagens. Empresta também partes de pessoas que compõem o seu universo, do passado ou do presente. Sem autorização. E nem por isso alguém se reconhecerá na história e dirá “Epa!”, pois de alguma forma, quando a narrativa é bem escrita, todo leitor se reconhece um pouco em cada personagem.
​
Um escritor não se sente à vontade quando é abordado por um leitor que pergunta se aquele personagem louco da história é ele, se aquela personagem que sofreu abuso na infância é seu alter ego.
O leitor precisa entender que, no dia em que o escritor responder “Sim, é tudo verdade, todos eles são eu mesmo”, a coisa toda vai perder a graça.