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A reforma madeirária

Roto e gasto, o Toco conversa com o Tamborete.

 

De ouvido uma Cadeira senta e não balança.

 

De fina madeira e pregos de ouro o Trono escuta de travessa.

 

O Sofá, da sala, espicha o olho.

 

"Lá vem o Toco reclamar, falar de socialismo, de Reforma Madeirária", diz a Espreguiçadeira saindo da piscina de toalha.

 

"Acredito que todos têm direito ao acabamento mínimo", comenta o Divã, forrado de camurça, seda e caxemira, tomando o chá das cinco deitado no escritório.

 

"O Bolsa Acabamento está deixando esse povo mal acostumado", diz irritado o Banco de Macacaúba.

 

"Pau Brasil querendo verniz de primeira? Que respeite o artigo quinto da Constituição: 'Todos são iguais perante as Madeiras de Lei'", disse, corando, imponente, a Mesinha de peroba rosa.

E o Toco, cabisbaixo, volta à casa de ripa, tira a farpa do nariz, pega o livro de Karl Marx do calço da Cadeira Manca e dorme sonhando com aguarráz no óleo de peroba e cheiro de alfazema pra Amazônia inteira.

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