Sem questionamentos
Na ponta primeira do poema existe um grandessíssimo problema: Como se explicar o resto que faltou do chão ao passo?
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Prefiro que ele descubra naturalmente, por si, e não pelo que escrevo dele porque o que eu digo nasce do que eu penso e por ora não tenho nada a pensar sobre o que faltou do chão ao passo; só ouso questionar, sem estorvo algum, pois uso o passo e amo o chão que piso e o que faltou só não amo ainda por ser amor que ainda vai nascer, mas se nascer também o amo. Por agora, o que tenho é dúvida e calo pois um poema não carece de questionamentos senão não seria poema e sim filosofia.
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Mas digo, sem questionar, repito, apenas dizendo como diz o mundo as coisas. Se fosse o poema um soneto, o resto que faltou do chão ao passo seria um salto separando as quadras e os tercetos, por óbvio.
Sendo o poema um verso livre, acho eu que o pedaço que faltou do chão ao passo seria só o escuro, bastaria o amanhecer pra que os versos voltassem a ser livres e belos - disse belos também pois não vislumbro feiura alguma à liberdade.
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À prosa poética não ouso supor, pois temo a resposta ser com circunstâncias e pormenores tantos que adentre a noite e eu não posso perder a hora de acordar. Mas se fosse supor, sem supor, pois refuto a réplica, daria numa janela o resto que faltou do chão ao passo. De uma janela se vê e se escreve o mundo.
Mas a bem da verdade, fosse o que fosse o verso, se se faltar o chão ao passo, aceite com serenidade. Nem sempre a rima é uma solução, mas se for, vai ser gauche na vida!