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O militante

Leone Rocha

Depois de uma minguada passeata estudantil, Jorge sentou-se à beira do rio, acendeu um cigarro e iniciou um devaneio. Seria ele útil? Seria todo aquele movimento realmente importante? Enquanto a passeata seguia seu andor, idosos olhavam lamentando. Adultos perlustravam desconfiados. Crianças acenavam. Aos gritos das palavras de ordem, uma dúzia de estudantes desfilavam confiantes, ardentes, olhos inflamados e certeiros no futuro. Menos Jorge, que foi fumar seu cigarro pensando nessas coisas.

 

- Companheiro, vamos, levanta! Temos que guardar os panfletos.

- Falou Ricardo, o dirigente, a Jorge.

- Tá certo, tô indo.

- Respondeu nosso amigo, que levantou-se e seguiu esmorecidamente pelo caminho de terra batida até chegar ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade.

 

Ao chegar no DCE, depararam-se com a porta arrombada. Dentro do Diretório a sala estava revirada. Os computadores foram roubados e, na parede, uma pichação: “Fora comunas!”. Ricardo ficou estupefato, muito abalado. Afirmou que deveria ter acontecido durante a noite com consentimento dos vigilantes, ligados à reitoria e afins do grupo que provavelmente realizou o sinistro.

Visitaram, então, os Centros Acadêmicos da Universidade para comunicar o fato. Quase todos solidarizaram-se. Organizaram um movimento de repúdio; comunicaram a imprensa do Campus e da Cidade. Marcaram um ato para o dia seguinte. Ao final da noite, Ricardo chamou Jorge secretamente para uma “missão”.

Procuraram o Centro Acadêmico inimigo, o qual provavelmente abriga aqueles que realizaram o saque. Quando chegaram no local, Ricardo quebrou umas das janelas do Centro e jogou uma bomba relógio no seu interior. “Corre!”, ele disse. Após 10 minutos, uma explosão, e sabe-se lá o que aconteceu lá dentro.

 

- Por quê você fez isso? - Perguntou Jorge assombrado .

- Vingança revolucionária, só isso. - Respondeu brevemente Ricardo.

No dia seguinte, no ato de repúdio, apesar de toda a divulgação e da gravidade do acontecido, mais uma vez, apenas uma dúzia de estudantes compareceram ao evento. Jorge resolveu dar um basta na sua condição de militante. Enrolou a bandeira, tirou a camisa do partido e foi pra sua casa, pro seu quarto ler quadrinhos.

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