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Pra lembrar

Bruno Muniz

Embaixo das árvores o vento leva longe a tarde no trapiche e volta, e eu ali, na linha da folha contando o que a vista não via; não pela poeira da terra-batida bulida e caída nos olhos, é que escrevo onde as pontas das coisas entortam.

O barulho dos barcos enchia de rio o caminho, e um tanto de gente sorria na ponta da língua o ocaso do sol. e eu, ali, na linha da folha contando o que a vista não via.

Vez ou outra levantava os olhos que escorriam ligeiros de volta pro chão, peregrinos amarrados como num jirau.

Só quando a sombra dos galhos me subia à testa eu olhava a cidade.

As redes amarradas aos paus cabiam rente ao chão o sono dos justos depois do açaí.

A Baiana do Pacuí aliterava um acarajé; onde Fernando escreveu Tajá tinha um pedaço de Igarapé.

Entre risadas pequenas e esperanças contidas, contei a madrugada de São José à Santa Inês. Ali e acolá, onde desembrulho um pano e mostro um novo canto.

Perdi o pôr-do-sol; as andorinhas, perdi; perdi Zé e Osmar cantando no Rods; perdi a música da orquestra passando a Fortaleza, mas te fiz um poema, torcido ao melado da cana.

Porque se a gente escrevesse menos, talvez esquecesse mais.

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